terça-feira, 21 de dezembro de 2010

"[...]ontem chorei. Por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fosse e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas.Versos brancos. Chorei pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda- roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. E não volta mais, pois que hoje é já outro dia. Chorei. Apronto agora os meus pés na estrada. Ponho-me a caminhar sob sol e vento. Vou ali ser feliz e já volto."

Caio F.

palavras sábias,como sempre..

sábado, 18 de dezembro de 2010

Palavras abandonadas por um tempo,silêncio que predominada em silêncio.
Palavras remoidas por dentro,retorcidas,amassadas,se agitavam até escaparem uma a uma.
Diante de um fim.
Próximo de um recomeço.
Novos ares,novas esperanças.Se escondendo e buscando.
Procurando cada vez mais descobrir.
SE DESCOBRIR.
Em busca de algo que é uma constante mudança.Em busca de vontades e anseios.De uma verdade que ninguém sabe.
Busca de liberdade.
Liberdade de alma,
de coração,
de mente.

Fim.
Quase lá.
Recomeço..sempre tem um logo enfrente!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

"Que eu não perca a capacidade de amar, de ver, de sentir. Que eu
continue alerta. Que, se necessário, eu possa ter novamente o impulso
do vôo no momento exato. Que eu não me perca, que eu não me fira,
que não me firam, que eu não fira ninguém. Livra-me dos poços e dos
becos de mim, Senhor. Que meus olhos saibam continuar se alargando
sempre”.

Caio Fernando Abreu


"AMÉM"

domingo, 10 de outubro de 2010

habt.

Tenho dormido pouco e o pouco que durmo são em horários impróprios.
Minhas mente vaga atrás que qualquer pensamento que possa dela se ocupar,como um sapo com sua lingua comprida capturando qualquer mosquito que passe distraído.
Deixo todos incompletos.
- Foco,menina! -- é o que ouço muito.
Viajo em sons que existem e ainda mais nos que imagino.
Transbordo em cores.Gosto de texturas.
Minha rotina me incomoda e me incomoda não cumpri-la.
Tento praticar o desamor.
Mas não é facil.
Nostagia por antigos colos que insistem em assombrar o presente.
Isso sem merecer.
Isso é se eu também mereço alguma coisa.

domingo, 19 de setembro de 2010

Hummmmmmmm..é que a alma leve tende a subir levando com ela os lábios,formando um sorriso no rosto.
Rosto ainda desenhado pelo travesseiro,corpo ainda com cheiro de cobertor.
A música da cafeteira.
O cheiro do pão fresco.
É quase como todo domingo.
Suave,sereno.
Hoje chuvoso,pedindo por uma tarde calma e de boa companhia.

- Quer uma dica?

- OBEDEÇA-O!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

é que as vezes que bate uma saudade.

Despedida

Rubem Braga


E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

...

Eis que da prateleira mais alta desaba um livro dos mais raros.
Caiu fechado.Machucou os que estavam ao redor.
Trazia uma história cheia de vida e alegria.Carregava consigo uma grande carga.E ensinava muito acima de tudo.
Tinha sua própria linguagem e dentro de si trazia rimas,longas estrofes de sofrimento silencioso,mas com fé e esperança a cada linha de sua mais pura poesia.
Belíssimas páginas escolhidas a dedo.
Era feliz e mais ainda FAZIA FELIZ.

Ficaram lembranças,dores da saudade..mas quem permaneceu ali até o fim percebeu quando o livro bateu asas pra longe mostrando sua verdadeira identidade.

Meu coração está de luto.

Meu coração está de luto,
assim como meus olhos,boca e alma.
A fonte de minhas lágrimas secou e as que caíram evaporavam na forma de amor.
Dor vaporizada.
Palavras são ditas entre dentes.
É quando a memória se torna sua maior inimiga.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sobre o amor.

Todo amor é cíclico, de fases, como a lua.
Todo amor morre, todo amor mata
Todo amor tem cios, como a natureza,
Como as fêmeas, como a terra.
Todo amor começa e encerra.
Todo amor tem alma, tem pele, tem cor,
Todo amor inala e exala, amor.
Precisa de cuidados, de versos, de estrelas,
De contos, de surpresas, de sereias.
De sanidade, de sair às ruas, de se atrever,
De ser Cervantes, Neruda, Picasso.
Todo amor antes é pedaço.
Todo amor conspira, delira, vagueia.
Todo amor comunga, tem fé, Santa Ceia,
Tem brilho profundo, sem fundo, maré cheia.
Todo amor é improviso, é sem aviso, é fato.
Todo amor é inexato, é todo, é tato.
É convulsão, confusão, extrapola a medida,
Todo amor é chegada e partida
Todo amor é intuição, carinho, doação,
É caminho, é espinho, é infusão
É mais que um, é comum.
E ao mesmo tempo é solidão.
Todo amor é sagrado, é bendito, é bem-feito,
Todo amor é pródigo, é filho, é pai, é perfeito
É congruente, inerente, é transparente, é a razão,
De sermos, de vivermos, é de Deus, é coração.

Tonho França

domingo, 15 de agosto de 2010

Quem sou eu no frio?
Um corpo envolto por panos
à procura de calor humano.
Sou dedos,lábios e unhas roxas.
Da cor do frio.
Da cor da morte.
Sou sonhos enrolados em cobertas.
Sou o café quente na padaria.
Sou aquilo que me aquece.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

domingo, 1 de agosto de 2010

a minha última cerveja.
na noite sozinha.
de um sábado quase feliz.de faxina.de conversa.de companhia.
de uma felicidade de existir.porque morrer tá muito próximo,é inesperado,é morte.
eu só queria um cigarro.
Talves ele mate mais rápido,mas ao menos
eu morreria feliz.
São Paulo dos sonhos, sem sono,dos sons,dos socos.
são Paulo dos sambas,dos pandeiros,dos assaltos,dos tiros.
e por que é que eu sinto saudade?
da companhia,do barulho.
de onde?
São Paulo da poluição e das cores.
da minha são paulo.
bons e maus bocados..de que?
já nem me lembro.
Borboleta negra de poluição.Casulo frágil.Mas sendo borboleta,sendo assim livre.

domingo, 18 de julho de 2010

o valor de dias incertos.

Há semanas atrás ,antes de entrar em férias tinha me decidido a fazer do ócio dos meus dias dias de reflexão.Tinha me decidido por me doar a caridades ou a um simples jardim.Tinha pensado em algo grandioso,bordado de gargalhadas,mas os dias me trouxeram surpresas.Foram dias sem bordado algum,tive desejos afogados,não em lágrimas,mas em amarguras.Sinto até que deixei pessoas que precisavam de mim de lado.Abracei algumas convicções sem nexo.Me enrolei numa manta de silêncio e duvidei de alegrias.
Fiz dos meus dias um silêncio sem áurea que preocupava alguns seres sensíveis ao meu redor.Seres que se acostumaram a me ver entregue a sorrisos e olhares caloros.Os dias também me trouxeram uma decisão de um peso que achei que não fosse aguentar.Foram noites de insônia,isso aumenta quando se vai deitar-se antes mesmo das dez da noite,tendo o travesseiro como seu maior cúmplice.
De amigos nada sabia,nem procurava saber.Me decidi que se quisessem me ver teriam de me procurar.Foram vários telefonemas,alguns convites negados.Até fui surpreendida pela visita de um amigo do passado,semente bem plantada,numa época de terra árida.
Outros dias vieram,também em silêncio.Até mesmo o sono me evitava.
Pela minha cabeça passavam idéias e problemas.Sentia falta do passado,daquele meu passado cantado.Mesmo assim, ao me sentar entre velhos amigos me sentia deslocada.Eu sabia que o problema era só um e era meu.Havia uma grande indagação.Algo dentro de mim pedia socorro.
Briguei com pessoas queridas,ouvi o que eu não queria ouvir,algumas coisas ainda não concordo.
Decidi,então, me tornar uma pessoa diferente,mas fui tomada pelo meu verdadeiro eu ao primeiro telefonema de um outro amigo que ao tomar uma grande decisão teve a delicadeza de me avisar,era só mais um que voava,só que dessa vez pra mais perto.
Entre mil pensamentos,continuava em silêncio.
Até que todo esse silêncio começou a me machucar não só a mim.
Algumas lágrimas de extrema doçura caíram sobre mim e acalentaram meu sono.
Voltei com os pés no chão e estou me reacostumando a tentar viver os dias,percebi que meu rosto já havia se desacostumado a sorrisos sinceros.
Apesar de tudo,ainda me resta uma semana.
Parto pela manhã a um pedaço de paraíso com ares gelados e de um céu único.A companhia não podia ser melhor pra quem quer reaprender a ser quem é,mas com algumas mudanças essencias.
Vou sorrir pro sol e pra lua.Tentar decifrar os desenhos das estrelas e que elas me mostrem o melhor caminho.
Que o frio da serra nos acolha e nos deixe senti-lo,afinal,
pés frios...coração quente!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

Tais palavras de Oswaldo Montenegro são o que melhor me traduz
ou pelo menos da metade.

beijos & beijos

sábado, 26 de junho de 2010

--- de uma vizinhança feliz ao acaso.

Cuca - decifrador de mentes e medos.

E se tirasse toda minha roupa e num rompante pela rua gritasse canções que se canta junto? Seria eu louco? Que mal há n’Isso?
Quem quer sair por aí? Quem quer descalço pisar o chão? Asfalto? Barro molhado? Areia porosamente árida? Mergulhar e suspensos solas soltas...
Quem começa? Medo… É que de repente assume em mim uma vontade de ser assim. Assim no repente do de repente.
Agora eu?Eu?Eu quem ?
E do de repente eu recomeço.
Agora,do meu suposto não começo.(Re)começo do avesso.
Eu não quero mais esse negócio...
Esqueci o que era pra ser escrito, como se houvesse roteiro
Mas quando é que aqui vida se faz previsível?
Quando é que se pode imaginar que o atual seria...
ASSIM...
É que de repente se faz sentir ISSO...

quinta-feira, 24 de junho de 2010

é os pingo da chuva me molhar.

Dormir com barulho de água é bom desde quando?
Desde que não seja uma goteira dentro do seu quarto às 2:34 da madrugada e que acabe por se transformar numa chuva inteira acima de sua cabeça,que te faça levantar e que não te deixe dormir pelas muitas horas que se seguem.
O sono vai-se embora e toda a melodia de chuva se torna um campainha irritante na mente.
A casa em silêncio.A rua em silêncio.Gritar seria uma solução.
Todos os tipos de pensamentos passeiam atrás de meus passos pela casa.
Maldizer a água é uma opção,mas que culpa tem ela que só busca uma válvula de escape?
Maldizer o teto talvés,mas ele só foi usado pela promiscuidade da água que buscava escapar de algum modo.
Mas e o meu sono?
Eu já não tinha por onde escapar.
Me entreguei aos panos e baldes que aumentaram ainda mais o toc,toc,toc,toc.
Já não era a primeira vez,mas só que dessa era bem pior.
Vi o dia nascer do sofá com olhos pregados.
Eu que sempre apreciei a chuva.
Prefiro distância do barulho de água por um bom tempo.
Mesmo sendo ele fora de casa.
Prefiro que nada me embale,mas se for preciso,me embale logo com buzinas,já que pedir sossego é pedir muito.

terça-feira, 22 de junho de 2010

ladaínha.

Numa de minhas descontraídas conversas com minha agradável companheira de lar (sempre embaladas pelo já bordão da casa "Todo amor é cíclico,de fases,como a lua...") buscávamos cada uma palavras de ordem pra si mesmo,e uma pra outra.Falávamos de erros,filosofia de bar,astrologia,ciência,crenças,medos,tudo que vem à tona em horas de descuido.
Citamos "equilíbrio","coragem","ciclos","consciência","destino".Demos uma atenção especial aos ciclos,como de costume.Até que chegamos aos porquês...
E então eu perguntei:
- Porquê?
Ela me olhou e respondeu:
- Porque seu orgulho não deixa.
Ambas rimos e o telefone tocou.

Achei real,forte e coerente.

Dei toda a razão aos astros que nos fizeram signos opostos e complementares.

sábado, 19 de junho de 2010

o Alfabeto está de luto.

"Sorriso, diz-me aqui o dicionário, é o acto de sorrir. E sorrir é rir sem fazer ruído e executando contracção muscular da boca e dos olhos.

O sorriso, meus amigos, é muito mais do que estas pobres definições, e eu pasmo ao imaginar o autor do dicionário no acto de escrever o seu verbete, assim a frio, como se nunca tivesse sorrido na vida. Por aqui se vê até que ponto o que as pessoas fazem pode diferir do que dizem. Caio em completo devaneio e ponho-me a sonhar um dicionário que desse precisamente, exactamente, o sentido das palavras e transformasse em fio-de-prumo a rede em que, na prática de todos os dias, elas nos envolvem.

Não há dois sorrisos iguais. Temos o sorriso de troça, o sorriso superior e o seu contrário humilde, o de ternura, o de cepticismo, o amargo e o irónico, o sorriso de esperança, o de condescendência, o deslumbrado, o de embaraço, e (por que não?) o de quem morre. E há muitos mais. Mas nenhum deles é o Sorriso.

O Sorriso (este, com maiúsculas) vem sempre de longe. É a manifestação de uma sabedoria profunda, não tem nada que ver com as contracções musculares e não cabe numa definição de dicionário. Principia por um leve mover de rosto, às vezes hesitante, por um frémito interior que nasce nas mais secretas camadas do ser. Se move músculos é porque não tem outra maneira de exprimir-se. Mas não terá? Não conhecemos nós sorrisos que são rápidos clarões, como esse brilho súbito e inexplicável que soltam os peixes nas águas fundas? Quando a luz do sol passa sobre os campos ao sabor do vento e da nuvem, que foi que na terra se moveu? E contudo era um sorriso."


O alfabeto está de luto,
o mundo da literatura sentirá saudades..
José Saramago
(1922-2010)

terça-feira, 15 de junho de 2010

-É quase inverno e frio já nos dá boas vindas.
O frio convida prum vinho e sorrisos abebadados.Convida pra olhares quentes e abraços apertados.Dormir quentinho,de preferência sem a ópera desafinada do despertador pela manhã.
Até convida prum samba quando preguiça não responde mais alto.
-É quase inverno.
Tempo de migrar pra alguns.E de hibernar pra outros.
Melhor seria migrar pra quentes ares ou dormir por longos meses?Cada um tem seu tempo,acho que nesses tempos,eu ,particularmente, migraria.
Sem contar que essas noites mais longas de inverno já pressupõem um certo romance.É também tempo de poesia.De música boa.De calor humano.
Pode ser tempo de reflexão pra outros,o que não deixa de ser certo.
O frio te traz férias,o despertar tardio pela fome,a luz do sol que não te deixa
adentrar o dia,o prazer do ócio - privilégio de alguns.
Frio das sopas.Dos queijos. Da casa de vó. Do cheiro de terra.Do cobertor que te espera empoeirado no fundo do armário,que aguarda um ano todo pelos seus dias de glória.Frio dos resfriados e das crises de ritine,tenho pena de quem as tem.
É quando as locadoras de video se empanturram ainda mais de preguiçosos,friorentos,românticos e desocupados.Ainda não inventaram um passa-tempo melhor de inverno do que um bom filme desconhecido,ou aquele que você aluga todo ano,na mesma época,mas que mesmo já conhecendo,ri de todas as piadas como se as ouvisse pela primeira vez,ou chora com ele.
Inverno das festas caipiras.Das trancinhas e guloseimas.Das bebidas quentes e comidas pesadas.Onde qualquer um vira padre pros mais inimagináveis casórios.Onde todo mundo volta a infância.
Inverno de nostalgia.
Tempos das botas.Das meias calças e saia.Das sandálias com meia.Dos lábios e unhas roxas.E de pensar como seria bom se você comprasse menos vestidos.
Mesmo inverno que agrada,onde o maior prazer é brincar de se esconder do frio.
Ele já bate a porta.
Separe seu vinho e um bom petisco.Colchão no chão.Cobertores pesados.Pessoas queridas.Sorrisos espontâneos ou silêncio em conjunto.O filme pode ser pretexto pra boas companhias ou a sua única companhia.De qualquer forma,você nunca está sozinho.
Então que ele chegue.
Dê-lhe também boas vindas.No fim de tudo,ele lhe trará flores...

terça-feira, 8 de junho de 2010

ela.



De repente eu viro criança.
Olhar dentro de seus olhos é como mergulhar num posso sem fundo de doçura e encanto.
Cara de menina,coração de menina,duras de mulher,colo de mãe.
Como já disse,sua arma é seu sorriso e seu violão seu escudo.
E eu?
viro criança..falo bobeira,faço manha e sorrio,sem querer eu sorrio.
Me conhece como poucos.
Sabe bem quando meus olhos mentem.
É ela,de quem eu gosto sem fazer esforço.
É ela,tecida com a ternura da Mãe Terra.
Doce Gaya.
E eu?
Desfruto de seus frutos.
Sempre doces,alimentam e nutrem almas.
Ao seu redor todo solo é fértil,
e a alegria impera.
Com a música.Com a poesia.Com sua própria filosofia.
E eu?
ah! me deixe por aí,ela é a estrela.
"Ninguém,nem mesmo a chuva,tem mãos tão pequenas...""

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Abraçada pelo frio me sinto protegida de todos os medos e maus pensamentos.
Acompanhada de Caeiro,me enxergo em toda sua despersonalização dramática.
Aqui,agradeço a lua que se esconde do frio por traz das nuvens
e a música da chuva que cai sem parar.
Já não quero falar de tristezas ou incertezas,entendi que meu futuro me levará ao caminho que meus passos trilhar.
Se eu atraio aquilo que eu transmito,
quero então transmitir desde a doçura do sol da manhã até o mistério do brilho da lua.
Quero que meu sorriso acalente corações e que meus abraços acalente almas.
Quero ser útil a outros,sendo assim,útil a mim mesma.

terça-feira, 1 de junho de 2010

domingo, 30 de maio de 2010

Cá estou eu, com o pensamento longe, porém fixo.
Cá estou eu sozinha, mas em boa companhia. Acompanhada do ar, da fumaça, da cortinha florida, do meu próprio pensamento. Pensamento tão acelerado que sem nem mesmo se finalizar já se auto-reprime. Mas ele sempre acaba voltando ao mesmo ponto.
Cá estou eu.
E eu só queria um ponto. Ponto que exala encanto. E eu no meu canto.
Aí eu canto.
E danço, com todas suas conotações.

sábado, 29 de maio de 2010

Romeu e Julieta X Romeu e Julieta

História X Doce

Um veio do outro, mas com que certeza?
Certeza de uma combinação que não aconteceu.
Teria mesmo dado tão certo quanto à simples junção de goiabada com queijo?
Duvido muito.
Porque amor não é um doce. O amor é cíclico.
E como acreditar num ciclo que nem começou. Da mesma forma que nasceu, morreu. Foi podado antes mesmo de poder dar certo (ou dar errado).
Romeu e Julieta. Ela podia ser neurótica e ele ruim de cama. Ou bom de cama, mas pão-duro. Ela podia descobrir ser lésbica após alguns anos de casamento. Ou ele poderia abandoná-la por uma nova paixão. E vice-versa.
Como podemos afirmar que eles teriam um “happy end” se não houve um meio?Se com a mesma velocidade que perseguiram a paixão, abraçaram a morte.
Happy end seria então, se sentar numa rede no interior saboreando um belo prato de goiabada com queijo.
Mas, sozinho?
(...)
Já não tenho certeza. Tá faltando goiabada nesse queijo.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Velo(cidade)

Dia corre
semana escorre
o relógio e o tempo
a cabeça e o tormento
que horas são?
semana que vem
é hoje,
é ontem,
sem pensar o futuro chegou.
Velocidade
cadê intensidade?
felicidade?
(saudade)
complexidade!
Seres do tempo
fora do eixo
Que eixo?
Me encaixo?
me queixo
Me deixo.
Já não corro,
e-s-c-o-r-r-o.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

terça-feira, 25 de maio de 2010

Cardoso de Almeida - 1X7X (12.04.10)


Carros, ônibus, motos... Barulho.
De nenhuma varanda se ouve solidão mais barulhenta. Nem mais silenciosa.
O rugir do caminhão de lixo se opõe ao som imaginário do queimar do incenso.
Incenso que deixa escorrer pela mesinha e pelo chão seu pó cinzento e perfumado. Diferente do pó cinzento que levanta da movimentada “Cardoso”.
Eu organizo o exterior pra amenizar meu interior às avessas. Limpo ambos os pós cinzentos. Um deles produzido por prazer, o outro adentra as portas e janelas sem nem mesmo se apresentar.
A TV já não me serve nem mais de abajur. Apertar seu botão central é como deixar escorrer sangue pela sala sem tapete. As boas notícias já não interessam a ninguém. Morte e desespero dão mais dinheiro e audiência.
A cortina colorida me olha triste.
O sofá macio me olha suspeito.
A fumaça do incenso tenta me dizer algo que não consigo decifrar.
E o barulho nunca cessa.
São mais carros. Diferentes pessoas. Que partem seilá pra onde. Seilá por que.
Os sorrisos do mural de fotos se embaralham transformando-se em lágrimas.
Limpo do mesmo jeito que fiz como o pó cinzento.
Volto pra varanda.
Esqueço do barulho por um segundo e me deixo abraçar pela massa que mesmo escura continua sendo o céu.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Argumentos na portaria.

Depois de acordar mais tarde que o normal numa segunda – feira normal, o interfone toca anormalmente e na tentativa de atendê-lo ele não funciona – o que achei normal.
Já estava de saída.
Desci as escadas avermelhadas dando rumo ao meu dia.
Ao abrir a porta vejo dois homens uniformizados e de capacete – o bolso da camisa trazia o bordado: AES ELETROPAULO. Os rostos eram simpáticos e responderam ao meu ‘bom dia’ com a simpatia esperada.
Pediram pra entrar.
Eu, como um poço sem fim de perguntas, indaguei o motivo da visita.
- A gente vai cortar a luz, moça.
Respondeu o mais novo dos homens, com um rosto naturalmente cômico e com as orelhas achatadas pelo peso do capacete.
- De que apartamento, moço? – respondi instantaneamente
- Apartamento 0X. Disse ele.
- Mas moço o 0X não pode. Retruquei rindo.
- É o seu? Perguntou ele assustado.
- Não. Disse eu – é do meu vizinho – o que não era surpresa pra nenhum dos três naquela manhã.
- Ele continuou dizendo que não tinha ninguém no apartamento em questão, e eu confirmei que era verdade.
O motivo do corte?
Duas contas atrasadas.
Disse a eles que os moradores além de ocupados eram esquecidos.E que se ele esperasse algumas horinhas,um deles chegaria,pagaria a conta e ele não precisaria desligá-la e religá-la mais tarde.
A simpatia naqueles rostos não era impressão.
Eles concordaram que deveria ser esquecimento mesmo, e que acontece com várias pessoas. Contaram alguns casos em meio a risadas. Falaram pra eu ligar pra um deles e que dariam preferência a esse ‘causo’.
Tentei mais alguns argumentos. Entre eles “mas os meninos são bonzinhos...”- o que fez o mais velho deles rir.
Todos em vão.
Estávamos ambos fazendo nossas partes. E a deles era cortar a luz.
Enquanto eu me entretinha com o moço engraçado, o outro já havia feito o serviço.
Me levaram no papo.
Pediram pra que eu entregasse um papel aos moradores do 0X,ou então que enfiasse por debaixo da porta,e foi o que eu fiz.
Troquei mais alguns minutos de conversa com os dois homens.
Riram da minha preocupação.
Mas querendo ou não a luz foi cortada.
Eles avisaram que estariam por perto e que logo voltariam.
( assim que contas fossem pagas)
Me despedi deles.
E antes que eu subisse pra enfiar o informante por debaixo da porta, o moço engraçado me disse:
- Moça,você é engraçada.

O mistério do(s) planeta(s)

“Vou mostrando como sou /E vou sendo como posso/Jogando meu corpo no mundo/Andando por todos os cantos/E pela lei natural dos encontros /Eu deixo e recebo um tanto/E passo aos olhos nus ou vestidos de luneta/Passado/presente/Participo sendo o mistério do planeta.”

O homem.
Os homens.
O Planeta. Os mistérios.
O mundo/Os mundos.
Cada ser com seu mistério. Cada qual em seu mundo. Cada homem em seu mundo misterioso. Mundo construído de vontades, paixões, tristezas, decepções, aprendizado, imaginação, compreensão, introspecção, abraços, sorrisos e lágrimas.
Os denominados ‘Homo Sapiens’, os mais desenvolvidos dos animais. Os pensadores.Os mais contraditórios.Constroem e destroem.
Sociais por natureza. Constroem famílias. Sociedades. Seus próprios mundos. E se tornam assim anti-sociais. Cada um dentro do seu espaço. Não compartilham suas angústias, tampouco seus sorrisos. O Homem sábio decidiu ser um sábio só. Um sábio dentro do seu mundo particular. Movidos apenas pelo tempo e as leis impostas pela sociedade.
A sós em sociedade. Sociedade formada por inúmeros mundos particulares. E cada vez mais particulares. Onde há a massificação de idéias e sentimentos. Onde cada um apesar de ter seu próprio mundo é tratado apenas como mais um. Onde se morre apenas mais uma vítima de uma bala perdida. Esquece-se que este, era um mundo inteiro, um mundo de sonhos e desejos.
Procura-se a cada dia descobrir um novo planeta, uma nova estrela, chegar à lua e quem sabe ao sol. Queremos descobrir vida fora da Terra. Investimos toda a nossa sabedoria em equipamentos que possam nos levar a mais lugares, mais rapidamente, a atravessar mares e quem sabe andar sobre as águas.
Procuramos vida em Marte e esquecemos-nos das vidas do nosso planeta Terra. Fechados em nosso mundo procuramos coisas na imensidão do céu quando seria mais fácil apenas olhar ao redor e se deixar permear por outros mundos. Mundos com olhos, bocas, orelhas, pernas. Um mundo com sentimentos, com dores e amores. Um mundo chamado José, Cristina, Ricardo, Abelardo. Um mundo que pensa e sente.
O homo sapiens deveria se reconstruir como mundo. Reconstruir a sociedade como um conjunto de mundos que precisam do contato como combustível ao que chamamos de vida. Precisamos ser sábios a ponto de saber que não precisamos da mais fina tecnologia pra se chegar mais rápido ao nosso destino. Destino esse que nem sabemos se realmente existe. Precisamos nos distrair nessa caminhada, observando mundos, permitindo a invasão positiva dos mesmos para assim construir o nosso mundo com menos velocidade e mais intensidade. Já não mais na nossa particularidade, mas em conjunto.
Aprendendo com todos os seres.
Com o silêncio dos peixes,
Com a liberdade dos pássaros,
Com a ousadia de um rato,
Com a inocência de um pato.
Aprender também com todas as situações.
Fazer do risco uma oportunidade pra se arriscar.
E pra gritar.
Fazer da janela um livro.
Da chuva uma cachoeira.
De braços um travesseiro.
Abrace mundos e permita-se ser abraçado.
Vá à padaria e sorria pras pessoas na rua. Descubra seu mundo mesmo que imaginado.

( Tom Jobim – expôs seu mundo, abrigou mundos,construiu e se reconstruiu,rodeado dos mais belos e densos mundos,se permitiu e nunca mentiu :
“Fundamental é mesmo o amor,
É impossível ser feliz sozinho...” )