terça-feira, 25 de maio de 2010

Cardoso de Almeida - 1X7X (12.04.10)


Carros, ônibus, motos... Barulho.
De nenhuma varanda se ouve solidão mais barulhenta. Nem mais silenciosa.
O rugir do caminhão de lixo se opõe ao som imaginário do queimar do incenso.
Incenso que deixa escorrer pela mesinha e pelo chão seu pó cinzento e perfumado. Diferente do pó cinzento que levanta da movimentada “Cardoso”.
Eu organizo o exterior pra amenizar meu interior às avessas. Limpo ambos os pós cinzentos. Um deles produzido por prazer, o outro adentra as portas e janelas sem nem mesmo se apresentar.
A TV já não me serve nem mais de abajur. Apertar seu botão central é como deixar escorrer sangue pela sala sem tapete. As boas notícias já não interessam a ninguém. Morte e desespero dão mais dinheiro e audiência.
A cortina colorida me olha triste.
O sofá macio me olha suspeito.
A fumaça do incenso tenta me dizer algo que não consigo decifrar.
E o barulho nunca cessa.
São mais carros. Diferentes pessoas. Que partem seilá pra onde. Seilá por que.
Os sorrisos do mural de fotos se embaralham transformando-se em lágrimas.
Limpo do mesmo jeito que fiz como o pó cinzento.
Volto pra varanda.
Esqueço do barulho por um segundo e me deixo abraçar pela massa que mesmo escura continua sendo o céu.

2 comentários:

  1. que lindo.....e triste....as vezes é assim mesmo aqui

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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